Nasceu em 1811, num subúrbio de Paris. Foi educado pela mãe, filha de um
magistrado, até aos doze anos. Com ela aprendeu Latim, Grego e Religião
e partilhou o seu cepticismo. Entrou para um internato escolar em 1823.
Logo no primeiro ano assitiu à expulsão de 40 colegas, por simpatias
republicanas. Esse ano correu bem quanto aos estudos. Mas já no ano
seguinte não foi assim. Aparentemente por falta de método, o instrutor
aconselhou a repetição. Evaristo Galois aproveitou para entrar nas
classes de Matemática. Tendo ganho acesso aos Elementos de Geometria de Legendre, leu-a como um romance do princípio ao fim. Saltava sem esforço das planícies para os cumes da abstracção. Os livros de Álgebra elementar deixaram de interessá-lo, porque lhes faltava a marca do inventor.
Empreendeu uma marcha solitária pelas obras mais avançadas de Lagrange, que incluiam a Resolução de Equações Numéricas, a Teoria das Funções Analíticas e as Lições sobre o Cálculo das Funções,
todas destinadas a matemáticos. Prosseguiu com Euler, Gauss e Jacobi.
Curiosa a contradição entre as opiniões a seu respeito dos professores
de Retórica: "A fúria das matemáticas domina-o. Seria melhor para
ele que os pais o autorizassem a dedicar-se exclusivamente ao estudo
desta disciplina." e de Matemática: "A facilidade por esta
disciplina parece-me apenas uma lenda em vias de extinção; - não há
vestígios nos seus trabalhos, que desdenha, e só resta bizarria e
negligência; - está sempre ocupado com o que não é preciso; - ocupa-se
permanentemente em fatigar os seus mestres; - o seu rendimento baixa
todos os dias.
Aos dezasseis anos autopropôs-se à admissão à
Escola Politécnica, um sonho que acalentava, não apenas por ser a
referência nacional nas matemáticas, mas também um pólo de resistência
activa aos monárquicos, regressados ao poder por imposição das potências
que derrotaram Napoleão. Não foi aprovado.
No princípio de 1828
entrou para a classe especial de Matemática de M. Richard, um professor
prestigiado e talvez o único matemático que reconheceu o mérito de
Galois em vida. Descobriu em Galois um génio capaz de sondar todas as
profundidades e de alargar os limites da ciência. Defendeu que tal aluno
devesse entrar imediatamente para a Escola Politécnica com dispensa de
exame. Este aluno destaca-se notoriamente dos seus condiscípulos; - só trabalha nos níveis superiores das matemáticas.
Em 1829, aos dezassete anos, publicou o seu primeiro trabalho, Demonstração sobre um Teorema das Fracções Contínuas Periódicas.
Nesse mesmo ano, submeteu o seu primeiro manuscrito à Academia das
Ciências, tendo Cauchy ficado árbitro. O documento foi perdido. Nem o
autor conseguiu recuperá-lo ao reclamar insistentemente na Secretaria.
Nesse
mesmo ano o pai de Galois - antigo presidente do Município -
suicidou-se, na sequência de perseguições políticas movidas pelo padre
da circunscrição.
Logo a seguir Galois propôs-se pela segunda vez à
Escola Politécnica. Novamente sem sucesso. Este exame tornou-se uma
lenda. Vinte anos mais tarde, podia ler-se numa nota dos Nouvelles Annales Mathématiques: "Um candidato de uma inteligência superior perdeu face a um examinador de uma inteligência inferior. Barbarus hic ego sum quia non intelligor illis!"
A tradição conta que Galois, tendo consciência de que o sonho da sua
vida se afundara ali, teria atirado com o apagador ao examinador.
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